A minha avó costumava dizer “guarde o que não
precisa, para quando precisar ter”, entretanto eu diria que o mais correto
seria “guarde o que não precisa, para quando precisar nunca achar”, pelo menos, não aquilo que se está procurando no momento, pois sempre encontraremos outras coisas que estavam guardadas/perdidas e que
nem mais lembrávamos delas.
Hoje precisei procurar algo, que meu marido jura que fui a
“guardadora” e deparei-me com um monte de outras coisas que nem sequer lembrava-me
mais: fotos, documentos, textos, lembranças, enfim, aquelas coisas que nunca
temos coragem de jogarmos diretamente no lixo, e as arquivamos para “quando
precisar”.
E dentre todas as lembranças e guardados que encontrei, lá
estavam alguns dos meus textos que escrevi há muitos e muitos e muitos anos: um
poema que fiz para a minha avó, o esboço de um livro infantil que comecei para
algum filho de alguma das minhas amigas, poemas de amor e de solidão, o início
de um romance (estilo Sabrina) e o conto que escrevi para participar de um
concurso literário da primeira Festa das Águas, ainda no governo do Sr. Zé de
Julião, com o qual fiquei em segundo lugar e ganhei uma poupança no Banco do
Brasil, que destinei para juntar economias pra torrar tudo na lua-de-mel, anos
depois.
Gostei de reler os meus escritos e gostei mais ainda de
relembrar o quanto eu era sonhadora e feliz naquela época. Não que eu não o
seja atualmente, mas naquela época tratava-se de uma felicidade que era obtida
com situações bem mais simples, com pequenas coisas adquiridas e com sonhos e
idealizações, que me faziam confiar mais na vida e, consequentemente ser mais
feliz.
Em algum lugar já li que a felicidade encontra-se nas
pequenas coisas, das quais vamos perdendo as percepções delas a
medida em que vamos “ficando adultos”; na medida em que perdemos a capacidade de
sermos felizes com as coisas mais simples e cotidianas, na medida em que
perdemos o brilho no olhar e deixamos de sonhar com coisas que em algum momento
de nossas vidas, alguém nos fez acreditar que elas seriam impossíveis de se realizar.
Naquela época, fui feliz em saber que, dentre tantos contos
inscritos, eu havia perdido apenas para o conto de Aldo, amigo querido de
longas datas, que tinha um estilo de escrever muito lindo. E eu sonhei que
poderia vir a ser uma grande escritora um dia. E fui imensamente feliz, pela
coragem que tive em participar do concurso, pela colocação obtida e também pelo
prêmio, cujo valor nem me recordo mais, mas que serviu de incentivo e base para
iniciar uma poupança juntamente com o meu noivo.
Após tanto tempo e com tantas mudanças em minha vida,
recordar aquele momento em que fui imensamente feliz, me fez feliz novamente e,
se não cheguei a ser a grande escritora que um dia sonhei, é porque de fato era
apenas mais um dos muitos sonhos que acalentei durante a minha infância/adolescência
e não o SONHO da minha vida, por isso não me sinto frustrada, pois a vida me
ensinou a “amadurecer” sonhos, transformando-os em coisas passíveis de realizações:
por isso este blog. E um dia, quando eu já
estiver aposentada, juntarei todas as crônicas escritas ou apenas imaginadas em
meu tão sonhado livro.
Afinal, já plantei árvores, já tive meus filhos, falta-me
apenas o livro, vontade não falta, já talento... Mas não podemos ter tudo, não
é?