sábado, 21 de setembro de 2013

Quando um não quer, dois não brigam...

Hoje amanheci meditando sobre este ditado popular, e vi nele a resposta adequada para a situação que vem ocorrendo na Escola João Rodrigues Cardoso, a EJRC.  
Se (de acordo com a fala do Governo Municipal em uma rádio local há alguns dias atrás) a municipalização da EJRC é algo desejado apenas pelo Governo do Estado, e que o Governo Municipal (de acordo ainda com esta mesma fala da rádio) irá aceitar, "quase a contragosto", apenas por que "quem não aceitaria a oferta de doação de uma escola com a infraestrutura que tem a EJRC?" Então lhe faço um pedido: não aceite. Simples assim!
Quando um não quer de fato a municipalização, ela não acontece. Basta não querer. 
Pense bem, somos uma comunidade escolar formada por professores simples, pobres, trabalhadores, que não estamos brigando para ter bens ou para ter regalias, estamos brigando para continuar trabalhando; para continuar formando cidadãos e para continuar tendo um lugar livre de politicagens onde todos nós, professores, possamos permanecer exercendo as nossas funções.
Lembre-se, meu caro senhor, um dia o senhor também fez parte desta comunidade escolar, também foi aluno e, não considere ousadia demais da minha parte, se me atrevo a dizer que ali, naqueles corredores, assistindo às aulas de alguns professores que sempre foram engajados politicamente, deve ter despertado sua "veia política", deve ter surgido o seu sonho de se engajar na vida pública e fazer carreira.
Não peço apenas por mim, peço em nome de uma comunidade da qual faço parte e me orgulho dela. Peço por todos aqueles que engajados nesta luta contra a municipalização estão se expondo, estão sofrendo algumas retaliações: NÃO ACEITE A NOSSA ESCOLA!
Perceba que nosso grupo é formado por professores, alunos, funcionários e pais que têm crenças, ideologias e partidos diferentes, mas todos temos em comum um enorme amor pela nossa escola, pela vida que levamos aqui dentro.
Se em outros momentos, nós fomos consideradas pessoas guerreiras, quando lutamos contra interferências municipais, por que agora, mudaram a opinião sobre a nossa conduta?
Meu caro ex-aluno, creio que a EJRC com a sua equipe de professores daquele momento, ao lhe acolher um dia, não mediu esforços para que o senhor se desenvolvesse, para que se sentisse parte desta escola. 
Busque em sua mente as sensações que o senhor sentia ao passar naqueles corredores; lembre-se de seus ex-professores, tão simples, tão fatigados com toda a trabalheira e a correria do dia-a-dia, mas tão dedicados a todos os alunos, sem distinções, sem divisões.
Eu fui aluna também, por oito anos, depois retornei em vários momentos como substituta e estagiária e, um dia, retornei de vez através dos meus méritos, dos conhecimentos adquiridos inicialmente aqui, depois no Colégio Municipal e por último na UPE. Voltei, através de dois concursos públicos, para dividir os conhecimentos adquiridos e para adquirir novos conhecimentos. Voltei e vivi os melhores momentos da minha vida aqui. Voltei e fiz amigos entre os meus colegas e entre os meus alunos. Não quero que isso acabe.
Temos isso em comum então, meu senhor, apenas isso, ambos somos ex-alunos da EJRC, entretanto, o senhor tornou-se um homem importante, poderoso, administrador do erário público  e eu tornei-me uma simples professora, idealista e formadora de cidadãos, que hoje luta para continuar tendo a EJRC para continuar exercendo as minhas funções pedagógicas, até o dia em que me aposentarei e outros nela continuarão este trabalho, dando sequência a esta missão interminável que é a formação cidadã das nossas crianças e jovens.
Nada mais peço ao senhor, nem emprego, nem dinheiro, nem favores, nenhum tipo de benesse. Não preciso, graças a Deus, pois tenho a minha profissão, tenho o meu trabalho  e quero continuar tendo-o por muitos anos ainda.
Por isso ouso lhe lembrar, meu caro ex-aluno da EJRC, "quando um não quer, dois não brigam". Se o senhor não pediu ao Governo do Estado a municipalização da EJRC, então não aceite o que o Governo do Estado está querendo lhe impor.  
Pelo bem de uma escola que tem quase 50 anos de prestação de serviços ao povo aguasbelense, peço-lhe humildemente, não aceite a EJRC e deixe-nos fazendo parte da rede estadual de ensino.
Atenciosamente, 
Uma ex-aluna e professora da EJRC há 20 anos e três meses.


2 comentários:

  1. Belissimo texto Maria Aparecida Lima. Estou aqui emocionada, pois penso assim como voce em principalmente na seguinte afirmação: "somos uma comunidade escolar formada por professores simples, pobres, trabalhadores, que não estamos brigando para ter bens ou para ter regalias, estamos brigando para continuar trabalhando; para continuar formando cidadãos e para continuar tendo um lugar livre de politicagens onde todos nós, professores, possamos permanecer exercendo as nossas funções".
    Forte abraço e continuemos nossa luta!!!

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