domingo, 1 de abril de 2012

Orgulho de ser professor!

Tornei-me professora por acaso, não por vocação, pois jamais desejei essa profissão para mim. Almejava fazer coisas distantes da minha realidade de moça pobre do interior, vinda de família humilde.
Naquela época, convivia diariamente com uma jovem professora idealista, inteligente e muito amiga, Januacele Francisca, Jane, que me aconselhou a fazer o curso de Magistério. 
Foram três anos em que repetia cotidianamente para mim que eu jamais seria professora. Apesar disso, empenhei-me em ser uma boa aluna.
Terminado o curso, prestei vestibular, passei e ingressei numa faculdade e novamente me preparei durante quatro anos para ser professora, mesmo assim, meu sentimento de "rejeição" a essa profissão ainda era latente.
Depois de formada, não fazia sentido continuar nutrindo este sentimento em relação a minha profissão, como também não havia mais desculpas para não aceitar o convite para ensinar.
Durante quase dois anos, ensinei num anexo do Colégio Municipal, que funcionava no prédio do antigo Colégio Padre Nelson. Onde contava com o apoio de algumas profissionais da área, que me auxiliavam e me orientavam: Dona Marina Neiva, diretora do anexo onde eu ensinava; Jane, ex-professora e dona do escritório de contabilidade onde eu trabalhava meio período; e minha companheira de trabalho com quem desenvolvi alguns projetos naquela escola: Maria Celsa, que também iniciava na profissão aqui nesta cidade, e já possuía alguma experiência, pois havia ensinado antes em Iati.
Aos poucos fui aceitando a profissão que a vida havia me oferecido e fui aprendendo a gostar de ser professora, vivenciando cotidianamente as coisas boas e as ruins que esta profissão tem.
Ao longo desta jornada de mais de vinte anos exercendo o magistério, tive momentos maravilhosos e outros nem tanto, fiz amigos e inimigos, vi meus alunos crescerem e tornarem-se meus colegas ou tornarem-se pais e mães dos meus novos alunos, enfim, vi e vivi muita coisa boa.
E toda essa vivência me fez ver o que esteve óbvio o tempo todo, mas que o meu idealismo adolescente não me deixava enxergar: é bom ser professora! Há um feedback muito positivo com os meus alunos. 
E se o meu salário, o SASSEPE, o SINTEPE ou o PCC me despertam revolta, raiva e tristeza, há inúmeras outras coisas no dia-a-dia que me alegram, que me fazem sonhar, que me fazem acreditar que "dias melhores virão".
E esta alegria me é concedida, principalmente quando vejo em meu aluno o reconhecimento do meu trabalho; quando sinto nele o carinho que eu despertei , pois outro reconhecimento não é dado a esta profissão, cuja sociedade ignora a importância e cujos governantes empenharam-se em massacrar ao longo da história desse país.
Por isso, diante de todo esse contexto negativo, que está sempre  exposto para a sociedade, fiquei imensamente surpresa quando soube que meu ex-aluno e "sobrinho" Jamil Araújo, havia desistido da faculdade de psicologia que estava cursando, porque havia passado no vestibular da Federal,  para um curso de formação de professores.
Fato admirável, pois nos últimos anos tenho visto muitos colegas de profissão prestando novo vestibular ou concurso e ingressando em outras profissões, deixando de lado o magistério.
Diferentemente de mim, Jamil será um professor por opção: vocacionado, porque acredita que esta é uma profissão que vale a pena. O que faz dele uma raridade entre os jovens da atualidade, que buscam profissões que lhes darão dinheiro ou status, ou ambos.
Saiba, Jamil, que status você não terá, poderá sofrer alguns preconceitos, isso sim. Como também, não terá dinheiro para luxos, ou para um "conforto menos sofrido", mas terá uma bonita missão pela frente: a de formar cidadãos conscientes, justos e politizados, para que, quem sabe, num futuro não tão distante, a nossa profissão venha a ter o reconhecimento de fato que aquela musiquinha, daquele comercial de TV diz: "A base de toda conquista é o professor/ A base de sabedoria, um bom professor."
Que Jamil Araújo sirva de exemplo para muitos jovens que ainda    estão em busca de sua vocação e para muitos professores que estão atuando e que já perderam o encanto pela profissão! 
Que ele tenha sempre orgulho de ser professor! 
Eu tenho orgulho de ser professora e, mais especificamente, orgulho de ter sido professora dele!

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