segunda-feira, 15 de agosto de 2011

ENCONTRO DE GERAÇÕES

Sempre fui muito ligada aos meus avós maternos, especialmente a minha avó Sebastiana, uma pernambucana, analfabeta, que priorizou a educação e a escolarização dos filhos, que mesmo tendo que trabalhar na roça para ajudar os pais, todos frequentaram a escola rural no sítio onde eles moravam.
Sebastiana Tenório, uma mulher de fibra e coragem, que educou com pulso firme os seus seis filhos, cinco da barriga e uma apenas do coração, adotada aos seis anos, muito me ensinou, com ela aprendi muitas coisas, ouvi muitas histórias e "causos" de meus antepassados, de costumes e tradições do passado, enfim, conheci gerações  anteriores a minha sob a ótica da minha avó.
Nas nossas inúmeras conversas, fui me descobrindo, entendendo o mundo e valorizando mais ainda a minha família e os meus pais, que tanto sofreram para serem criados e para nos criar e educar, pois não havia esse sem número de facilidades que existem hoje em dia para as famílias pobres. Tudo era muito mais difícil, mais sofrido para se conseguir, talvez por isso soubéssemos valorizar mais as poucas coisas que possuíamos.
Atualmente, percebo em meus filhos e em meus alunos algo que me deixa muito triste: o desligamento com os mais velhos, a falta de interesse em conhecer seus antepassados, em se comunicar com quem não é de sua geração. E isso é terrível, pois as pessoas idosas, por não terem com quem dividir suas experiências, suas histórias de vida, vão se fechando, se recolhendo e levarão consigo tantas coisas que poderiam ser compartilhadas com esses jovens, coisas que só iriam enriquecer essa nova geração, tão imediatista e, por vezes, extremamente egoísta e individualista.
Tentando levar os meus alunos adolescentes de uma turma de 8ª série a descobrir as riquezas que existem por trás da experiência de gerações passadas, solicitei deles que entrevistassem pessoas de gerações anteriores a sua: da geração dos pais deles (40 a 50 anos, aproximadamente) e dos avós (acima de 60 anos), buscando conhecer e comparar alguns aspectos da vida dessas gerações anteriores: namoro, moda, costumes, estudo, tradições, diversões, músicas, enfim, tudo o que eles julgassem interessante. Depois eles teriam que apresentar o resultado de suas descobertas em forma de seminários, onde iriam sistematizar todas as informações, traçando comparações entre as três gerações: a deles, a dos pais e a dos avós.
As apresentações ficaram muito interessantes e os depoimentos que eles deram sobre tudo o que descobriram foram surpreendentes, por isso pedi que eles fizessem um relato escrito de como se sentiram ao entrevistar e conversar com essas pessoas mais velhas. Agora apresento alguns desses relatos:
     
          "Conversar com pessoas mais velhas é uma verdadeira viagem no tempo. Você fica se imaginando como seria se você vivesse naquela época. Ou talvez, nem conseguimos nos imaginar vivendo numa época "inferior" a nossa.
          Foi uma ótima experiência ter que entrevistar pessoas mais velhas, com mais conhecimento, e poder conhecer um pouco mais sobre como eram os seus costumes.
          Em alguns momentos da entrevista, eu achei muito engraçado os relatos das pessoas. Pudemos perceber claramente as diferenças que há entre nossas gerações.
          Também teve alguns momentos onde eu me revoltei bastante, em saber que eles, muitas vezes, eram proibidos pelos pais de estudar e até de ter o direito de escolher seus maridos.
          Mas foi realmente espetacular fazer uma viagem de volta ao passado."
Januacele Vieira


          
          "Eu, conversando com as pessoas mais velhas, me senti como se eu estivesse voltando no tempo, na época em que as pessoas ainda se vestiam com calças de boca larga, e conhecendo mais o passado das pessoas, que enfrentavam dificuldades e as coisas que passavam.
          Foi realmente uma experiência muito boa saber como funcionavam as coisas naquela época. Mas houve momentos na entrevista que fiquei muito triste, pois soube que os pais proibiam os filhos de estudar e, principalmente, não havia a liberdade de escolher seus próprios maridos.
          Depois das entrevistas, percebi que a nossa geração é diferente das mais velhas, pois agora temos liberdade de fazer as nossas próprias escolhas e naquela época não.
          Foi ótimo ir de volta ao passado!"
Larissa  Oliveira

          "Quando eu entrevistei as pessoas de gerações passadas, eu me senti um pouco no passado também; imaginei as coisas que os entrevistados falaram, como por exemplo, a rigidez dos pais em relação ao namoro, às roupas, ao respeito de um com os outros; à educação, e certamente prefiro os tempos de hoje. Mas em algumas coisas eu prefiro o passado: a educação que hoje em dia quase não existe mais, pois as pessoas não respeitam mais umas às outras, principalmente o respeito aos mais velhos.
          As roupas mudam, a linguagem se transforma ao longo do tempo, não são mais como antigamente, hoje existem novas gírias, as roupas estão mais curtas e as mulheres não se valorizam. E tudo isso ainda continuará mudando de acordo com o tempo."
Bianca Teixeira



Nenhum comentário:

Postar um comentário